falta de chuva

Seca deixa 3,5 mil famílias sem acesso à água e causa prejuízo de R$ 3,9 bilhões na Região Central

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Foto: Prefeitura de Rosário do Sul (Divulgação) 

A seca que assola o Rio Grande do Sul reduziu a oferta de água e leva o homem do campo a depender da distribuição em caminhão-pipa. Nos 39 municípios da Região Central, a dificuldade é a mesma. São poços, vertentes e reservatórios secos, que já deixam 3.555 mil famílias sem acesso à água potável na região, conforme levantamento feito pelo Diário (veja abaixo). A estiagem também deixa uma quebra bilionária na economia local. Os prejuízos agrícolas estimados já são de R$ 3,9 bilhões


Em muitas comunidades, a chegada de caminhões-pipa da Defesa Civil é um sinal de esperança e ameniza a situação, mas não resolve o problema. Além da falta de chuva regular, o calor extremo contribui para que os reservatórios de água baixem de nível ou sequem ainda mais rápido. Mesmo com a chuva dos últimos dias, a situação não melhorou. Para um reabastecimento de rios, barragens e vertentes, são necessários dois ou três meses de chuvas constantes.

Após muitos pedidos, ruas João Franciscatto e Pedro Figueira serão pavimentadas

Em Agudo, são 600 famílias que dependem da entrega de água da prefeitura. A característica da região de ter muitos morros contribui para que haja dificuldade no abastecimento. São três caminhões na rua, diariamente, fazendo a distribuição.

- Além da água, já estamos no segundo lote de entrega de mangueiras e caixas d'água, para que os produtores consigam fazer o armazenamento. É a terceira estiagem seguida que assola o nosso interior - informa o secretário de Agricultura, Giovane Neu. 

Alguns municípios já fazem o racionamento da água para evitar um colapso no abastecimento também na zona urbana, como é o caso de Pinhal Grande. Na área rural, são 50 famílias que dependem da entrega em caminhão-pipa. 

Em Santa Maria, a Defesa Civil leva água potável em 98 pontos de distribuição para 152 famílias, totalizando 601 pessoas em nove distritos e cinco bairros do município. 

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Foto: Marcelo Oliveira (Diário)

14% DA POPULAÇÃO AFETADA

Outro município muito afetado é Vila Nova do Sul. Por lá, são 150 famílias sem água. Se multiplicado o número por quatro, que é a quantidade média de pessoas em cada famílias, são 600 pessoas sem abastecimento - o que representa 14% de toda a população de 4,2 mil habitantes. 

ÚLTIMA CHUVA EM NOVEMBRO

Enquanto cidades da região registraram acumulados de até 100 milímetros desde a última semana, Unistalda não viu uma gota sequer de água cair do céu. Conforme a prefeitura, a última chuva significativa foi em 25 de novembro. Desde então, não houve uma precipitação de mais de 15 milímetros. São 20 famílias que dependem da entrega de água em Unistalda. 

CAMPO AMARGA PERDAS DE R$ 3,9 BILHÕES SÓ NA REGIÃO CENTRAL

As duas semanas de temperatura à beira de 40ºC fizeram com que os prejuízos na agricultura se multiplicassem. Há 15 dias, a Emater estimava perdas em torno de R$ 1,5 bilhão, considerando 35 municípios da regional do órgão. Agora, a cifra gira em torno de quase R$ 3,9 bilhões, considerando soja, arroz, milho, feijão e pecuária. Na safra passada, só a colheita histórica de soja movimentou cerca de R$ 9 bilhões na região. São perdas bilionárias que deixarão de circular na economia local e colocam o campo em alerta. 

- Temos a maior área de soja entre todas as regiões do Estado. As perdas são muitas em todas as cidades. Em municípios maiores, como Santa Maria, que tem comércio forte, serviço público, Forças Armadas, isso não será sentido com tanta força. Mas há cidades que dependem quase exclusivamente do agronegócio - analisa o gerente regional da Emater, Guilherme Passamani. 

Municípios da região fazem campanhas de castração de animais

Na cultura do milho as perdas já consolidadas passam de 60%. Na soja, principal cultura de grãos da região, as perdas já chegam a 30%. A produção leiteira já foi impactada entre 25% a 40%, com a diminuição da oferta de pastagem de qualidade, que afeta também o ganho de peso na pecuária de corte. Já são 1,7 mil açudes secos. Além da falta de chuvas, o sol escaldante queimou o que ainda restava em muitas lavouras. As estimativas da Emater são médias. Há plantações em que as perdas foram de 100%. Os prejuízos já contabilizados são irreversíveis. Ou seja, as chuvas, a partir de agora, só podem estancar as perdas, mas não recuperar. 

SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA

Todas as cidades da Região Central estão em situação de emergência por causa da estiagem. A última prefeitura, Santana da Boa Vista, encaminhou o decreto nesta semana. Com isso, as cidades devem conseguir acesso a recursos estaduais e federais para investir em ações para amenizar a seca. Além disso, produtores rurais têm acesso a seguros agrícolas e podem renegociar dívidas.

Já são 378 prefeituras que assinaram o decreto de situação de emergência por causa da seca no Estado, o que representa 76% do total de 497 municípios gaúchos.

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Foto: Emater (Divulgação) 

PLANTAÇÕES FORAM DESTRUÍDAS E NEM A HIDROPONIA RESISTIU 

Para além de porcentagens, números e cifras, há pessoas que vivem o drama de ver o sustento do ano inteiro ser comprometido. A estiagem, associada ao calor excessivo, não poupa nem as produções em estufa e hidroponia. Esses ambientes são controlados e, em geral, costumam ser mais fáceis de monitorar. Só que o superaquecimento e falta de água fresca exterminaram produções de alface, rúcula, temperos, tomate e outros vegetais.

As imagens de plantações de hortaliças completamente perdidas impressionam. O agricultor Luís Olmiro Ravalha, de São Francisco de Assis, precisou abandonar boa parte das plantações hidropônicas em estufas. Fora das estufas, a produção de repolho também teve perdas de 30%. Tudo queimou. Luís chegou a começou a construção de mais uma estufa, mas parou a obra para evitar mais prejuízos. 

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">- Tudo queima e apodrece. Tudo desidrata, fica murcho, não tem valor comercial. Boa parte da nossa produção vai para merenda escolar. Em fevereiro voltam as aulas. Mas vai atrasar a nossa produção esse ano - conta Luís. 

Hidroponia é o nome dado ao sistema de cultivo de plantas sem a necessidade de solo como meio de crescimento. As plantas ficam em contato direto com a água. Essa forma de cultivo é, inclusive, uma das formas de se manter a produção em meio à estiagem. O que chama a atenção, neste caso, é que as perdas não aconteceram por falta d'água, uma vez que o sistema permanecia abastecido. Mas, as mortes aconteceram por causa do calor forte sobre os vegetais e aquecimento da água que "cozinham" as plantas. 

- O que acontece é que, dentro de uma estufa, é ainda mais quente do que no ambiente. Com as temperaturas muito elevadas, chegamos a ter 50ºC dentro das estufas. A partir de 30ºC, em geral, as plantas já ficam irritadas. Além disso, observamos que aqueles produtores que têm o sistema de hidroponia estruturado junto a vertentes conseguiram dar sequência na produção. Mas aqueles que têm o sistema ligado a açudes tiveram perdas totais. Isso porque a água é parada, chega quente às plantas. No caso das vertentes, a água é fresca, se renova - explica o extensionista da Emater de São Francisco de Assis, Mauro Lançanova Brunno.

FAMÍLIAS SEM ACESSO À ÁGUA POTÁVEL POR CIDADE DA REGIÃO CENTRAL

  • Agudo - 600 famílias
  • Caçapava do Sul - 407 famílias
  • Cacequi - 4 famílias
  • Cruz Alta - 30 famílias
  • Dilermando de Aguiar - 34 famílias
  • Dona Francisca - 20 famílias
  • Faxinal do Soturno - 10 famílias
  • Formigueiro - 50 famílias
  • Itaara - 15 famílias
  • Itacurubi - 50 famílias
  • Ivorá - 70 famílias
  • Jaguari - 30 famílias 
  • Jari - 30 famílias
  • Júlio de Castilhos - 120 famílias
  • Lavras do Sul - 150 famílias
  • Mata - 20 famílias
  • Nova Esperança do Sul - 40 famílias
  • Nova Palma - 70 famílias
  • Paraíso do Sul - 100 famílias
  • Pinhal Grande - 50 famílias
  • Quevedos - 20 famílias
  • Restinga Sêca - 15 famílias
  • Rosário do Sul - 22 famílias
  • Santa Maria - 152 famílias
  • Santa Margarida do Sul - 20 famílias 
  • Santana da Boa Vista - 110 famílias
  • Santiago - 104 famílias 
  • São Francisco de Assis - 60 famílias 
  • São Gabriel - 300 famílias
  • São João do Polêsine - 30 famílias
  • São Martinho da Serra - 150 famílias
  • São Pedro do Sul - 296 famílias 
  • Vila Nova do Sul - 150 famílias
  • São Sepé - 100 famílias
  • São Vicente do Sul - 30 famílias
  • Silveira Martins - 20 famílias
  • Toropi - 26 famílias
  • Tupanciretã - 30 famílias 
  • Unistalda - 20 famílias

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